quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Estado Novo e a questão Escutista

Um dos motivos de tensão entre o Estado Novo e a Igreja Católica foi a questão Escutista. Em 1932, Cordeiro Ramos oficializara o Escutismo ao criar a Organização Escutista de Portugal, uma organização estatal que integrou o Escutismo Católico e não confessional: o Corpo Nacional de Escutas (CNE), a AEP e a AGP.
Quando a Mocidade Portuguesa foi criada, tanto o Estado como a Acção Católica que tinham organizações de juventude, pretenderam eliminar as associações Escutistas rivais.
Em Junho de 1936, Carneiro Pacheco anunciou a desoficialização do Movimento Escutista e em Agosto extinguiu a OEP. Depois quando foi criada a Mocidade Portuguesa o governo pediu à AGP que cessasse as suas actividades e em 1938 o Ministro da Educação Nacional, pediu ao Cardeal Cerejeira a dissolução do Escutismo Católico (CNE). Este ultimo recusou argumentando que o facto do Estado Novo não ser totalitário se devia em parte à possibilidade de existência de associações particulares.
Numa carta a Salazar escrita pelo então ministro da Educação, dá conta que em vez de uma formula totalitária, se optará, relativamente ao Escutismo Católico (CNE), por uma formula de independência vigiada para não arranjar atritos com a Igreja. Relativamente as Associações Escutistas o Ministro utilizou uma dupla táctica: ao mesmo tempo que as tentou dissolver, sem sucesso, recrutou nelas alguns dirigentes para a Mocidade.
A sujeição dos estatutos de todas as associações de juventude à aprovação da Mocidade Portuguesa, imposta pelo Ministro Mário Figueiredo em 1942, trouxe novas dificuldades ao Escutismo, as quais só cessariam no inicio dos anos 50.

O Escutismo em Portugal, embora com todas estas limitações e a concorrência da Mocidade Portuguesa, continuou a cumprir a sua missão educativa.

Texto extraído de A Mocidade Portuguesa Feminina (1937-47), Irene Pimentel, Edição Esfera dos Livros, livro da vencedora do Prémio Pessoa 2007