domingo, 23 de outubro de 2011

ACAMPAMENTO DE PATRULHA

Acampamento! Escutista, claro.

Uma das maiores virtudes que vejo nos acampamentos, é o desenvolvimento da autonomia dos miúdos.

Nos exploradores, concretamente, consegues operar e ver grandes mudanças nos miúdos, no espaço de meses, se os levares a acampar frequentemente. Aquele miúdo de 11 anos que acabou de entrar para o grupo, muito citadino, calcinha vincada, gel no cabelo, incapaz de se dobrar para apanhar alguma coisa do chão, que nunca tocou num tacho nem num esfregão da loiça, transforma-se, em poucos meses, num mocinho desembaraçado, para o qual tudo tem uma solução rápida e nada é impossível. Está tão à vontade no seu campo de patrulha como no sofá em casa.

Este desenvolvimento só se consegue se lhes proporcionarmos uma série de experiências e dificuldades, que se vejam obrigados a ultrapassar. Dificuldades, obviamente, naturais, daquelas que os pata-tenras sentem num acampamento, só por já não estarem em casa.

Devolver à panela a massa que caiu na terra, correr atrás do cantil que saltou da mão e foi ribeiro abaixo, gramar o sal que se meteu a mais no arroz, tropeçar nas espias da tenda vezes sem conta, ganhar bolhas nas mãos de tanto puxar pelo sisal, acordar com as botas molhadas pela humidade da noite, dormir em cima daquele pauzinho que ficou esquecido debaixo da tenda, ir de camisa do uniforme amarrotada para a missa, descobrir que a faca-de-mato não corta nada e devia ser afiada antes de ir para o acampamento, rapar frio de noite porque julgava que fazia calor 24 horas por dia, ver a tenda infestada por formigas em busca das migalhas das bolachas, entornar o molho da massa com carne em cima das pernas por causa do prato demasiado raso, acabarem-se as pilhas da lanterna logo na primeira noite, ensopar a carteira que se trouxe desprotegida, o saco-cama que não volta a caber no saco de origem, e por aí fora.

Todas estas situações ajudam o miúdo a criar em si próprio autonomia e a ser mais expedito. Naturalmente e com muito humor pelo caminho.

Pessoalmente, prefiro os acampamentos mais curtos, aos mais longos. Antes 3 acampamentos de fim-de-semana até à Páscoa, do que depois um acampamento de uma semana na Páscoa. Porquê? Porque são 3 vezes que eles montam as tendas, 3 vezes que se têm de adaptar ao terreno e às condições, 3 vezes que têm que arrumar a mochila, 3 vezes que têm que organizar e preparar o material individual e de patrulha, 3 vezes que viajam com a “tralha” toda, 3 vezes que desmontam as tendas, 3 vezes que regressam de um acampamento e têm que arrumar e acondicionar o material para voltarem a usar no próximo, 3 vezes que têm que pensar na ementa. E, mais importante que tudo, 3 oportunidades que têm para melhorarem os aspectos negativos que encontraram no acampamento anterior.



O nosso objectivo, no Escutismo, é educar os miúdos, e não proporcionar-lhes divertimento contínuo, como se andássemos a correr contra o relógio.

Ainda o acampamento serve para desenvolver os laços que unem os membros das Patrulhas. Já BP defendia os acampamentos com pouca gente (Unidades) e de forma a que as patrulhas ficassem distanciadas umas das outras. Uma espécie de isolamento. Uma oportunidade para o Guia de Patrulha desenvolver a sua missão de orientar a Patrulha.

As vivências e experiências únicas vividas pelos membros da Patrulha, contribuem para fortalecer o Espírito de Patrulha. Ficam histórias e aventuras que apenas aqueles elementos viveram e partilham. Há quem defenda a ideia de que é preferível acantonar do que acampar, porque, para além de se continuar a dormir no chão e se poder fazer as mesmas actividades ao ar livre como num acampamento, ganha-se muito tempo para as actividades em si. Que é como quem diz, não se perde tempo em construções e montagem de tendas e as refeições cozinham-se mais rapidamente - de preferência se for feita comida para o grupo todo, em vez de cada Patrulha fazer a sua.

Ora, aí está um conceito que não tem muita relação com o Escutismo e com a importância do acampamento. Nós não levamos os miúdos a acampar para eles se divertirem apenas, mas para que esse acampamento possa ser um motor do seu próprio crescimento, sendo que muitas das tarefas que realizamos tradicionalmente nos acampamentos, como montagem de tendas, construções e culinária, têm aí um papel importante.
texto extraido de http://www.derivas.org/