sexta-feira, 22 de agosto de 2008

RECRUTAR ADULTOS


Não é muito consciente o recrutamento que fazemos… quem aparece vai-se aceitando e a “coisa” vai sobrevivendo.

Quando a situação fica incontornável, então procura-se activamente “alguém”. Ficar incontornável normalmente significa que a secção ou o agrupamento está em risco de fechar por falta de apoio adulto.

Há também o caso de até haver potenciais adultos cheios de capacidade para desempenharem a função e missão... mas ninguém ousar “chegar à frente”.

Julgo que o recrutamento não pode ser uma solução de fim de linha mas devemos assumi-lo como um pulsar de vida, uma oportunidade de crescer, de procurar novas ideias ou energias, de rodar cargos, de ajudar a amadurecer a capacidade de encaixarmos outros ou de nos adaptarmos a outras situações.

Pensar em recrutamento deve ser uma preocupação cíclica. Um recrutamento mais consciente pode ser a garantia de que o agrupamento, núcleo ou região funciona e que não funciona só para o presente imediato, mas que garante a continuidade futura.

O que é recrutar?
“Recrutar é o acto de IDENTIFICAR grupos e indivíduos para um serviço e de facto CONVIDÁ-LOS a voluntariarem-se”.

Quando constituímos equipas de trabalho para assegurar uma secção, um agrupamento, um núcleo, uma região ou o nível nacional, estamos a recrutar e é normalmente uma fórmula de sucesso. O segredo está provavelmente no facto de recrutamos para um projecto, para uma tarefa e missão claras, para um período temporal definido, para integrar uma equipa de trabalho com que se identificam, e porque é directo o contacto.

Quando convidamos jovens que terminaram a sua caminhada escutista a integrarem equipas de animação, estamos a recrutar para trabalharem com “aquela” equipa que conhecem, apelando à sua experiência e vivência e de alguma forma à oportunidade de lhe darem continuidade.

Quando acolhemos um pai que se entusiasmou com uma actividade que fizemos e em que ele activamente colaborou, recrutámos o seu apoio pontual. Também aqui houve uma tarefa clara, a integração numa equipa, a definição temporal e espacial, onde o entusiasmo e o sucesso da actividade assumem grande peso. É que de facto recrutamos pelo exemplo, pela reputação e pela hospitalidade.

Quando, normalmente em situação de “urgência”, convidamos um antigo escuteiro a assumir aquele cargo para o qual não temos a disponibilidade de ninguém, estamos claramente a recrutar apelando à sua anterior experiência e ao reconhecimento que lhe temos.

E tantas vezes que temos excelentes oportunidades de recrutar e nem nos apercebemos do potencial que desperdiçamos. E algumas vezes em que espontaneamente temos ofertas de disponibilidade que não encaixamos, que não integramos, que tão depressa chegam como saem e nem realizamos porquê...

Algumas dicas
Porque procuramos soluções as dicas podem trazer algumas ideias. Valem o que valem... mas atrevo-me a derivar...

- Quando constituímos equipas de trabalho, devemos tentar incluir elementos menos experientes, que possam fazer “escola”. Muita da inércia do “chegar à frente” para determinadas funções, em determinados níveis estruturais, deve-se ao facto dos potenciais adultos não conhecerem aquela realidade, e não conhecendo não sonham nem se identificam com a missão. Esta inclusão desmistifica as missões, rejuvenesce a acção e é uma aposta clara num futuro participado e sustentável. Haja adultos mais maduros e experientes que promovam e apoiem esta visão, porque incluir é muito mais do que convidar.

- As funções que se assumem devem ser claras e para períodos de tempo definidos, para que os compromissos sejam de facto conscientes e não fiquem esquecidos, desfocados ou diluídos nos anos.

- Para além de planear o recrutamento activo, devemos estar preparados para integrar os voluntários que se auto-proponham.

- Devemos apostar em recrutar diversidade. A diversidade mais do que diferenças físicas como a idade, a raça ou o género, mas outras perspectivas e visões; equipas que se completem, que se complementem e que reflictam a realidade da “base de trabalho”. E quando recrutamos diversidade, temos de contar com diversidade também de opiniões. É este o grande potencial... quando não é só para a fotografia mas visto como estratégia.

- Devemos estar conscientes de toda a comunidade em que nos inserimos, identificando oportunidades nos diferentes grupos que a integram, com particular atenção para as tendências sociais recentes dos movimentos migratórios e do envelhecimento da população. De facto são realidades com tendência a se intensificarem e onde podemos recrutar apoios específicos, que deverão ser devidamente pensados e enquadrados.

- Podemos apostar em recrutar antigos escuteiros que entretanto já tenham passado os seus períodos críticos, devendo ter em atenção o risco de reacender conflitos ou de que venham limitados por ideias antigas.

- Façamos um exercício de reflexão: o que resultou connosco? Como temos sido recrutados para as diferentes funções e missões que temos desempenhado? Que mensagens foram marcantes? O que nos faria recusar?...

Uma receita
Esta é uma sugestão de receita que o “cozinheiro” deve adaptar às suas características e ao paladar dos seus comensais, enriquecendo e doseando os ingredientes com um toque pessoal.

1 Mão cheia de PAIXÂO (porque o entusiasmo é contagiante, e porque indicia um projecto ou ideal real e apaixonante)

3 Medidas de SINCERIDADE (porque a honestidade relativamente ao que se pretende e ao que se pode dar será garantia de continuidade)

1 Pitada de SEDUÇÃO (porque para seduzir precisamos de compreender o outro nas suas necessidades e anseios, e será garantia de ir ao encontro das suas expectativas)

2 Medidas de INCLUSÃO (porque é incluindo disponibilidades, capacidades e ideias que reconhecemos e valorizamos a função, o desempenho e a equipa)

SER VISIONÁRIO qb (porque sonhar alto e longe no que queríamos que fosse e que acontecesse define o horizonte e orienta para o que se procura)

1 Dose de INTEGRAÇÃO (porque é preciso preparar o “depois do sim”, acolhendo e apoiando a nova aquisição na sua função)

Os ingredientes devem ser preparados previamente. A mistura deve ser feita em lume forte e decidido (porque estando os ingredientes preparados a acção deve ser liderada e precisa no tempo).

Servir de forma comprometida e... Bom Apetite

(texto escrito por Maria Helena Guerra e publicado no site derivas.org)